sexta-feira, 5 de abril de 2013

Interpretação de textos para o Ensino Médio
 

PREFÁCIO

 

São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor. É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço. Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou,– como isso dou a lume essas harmonias. São as páginas despedaçadas de um livro não lido... E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e tímida por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como o consolo que foi de uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor – esses dois raios luminosos do coração de Deus.

                                                                                                                                               AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos.

QUESTÃO 01

Os aspectos linguísticos e enunciativos do texto demonstram que se trata do gênero prefácio, pois o autor

(A) apresenta sua visão de mundo, explorando o uso de metáforas como recurso persuasivo.

 

(B) comenta a obra, apresentando justificativas e explicações sobre sua autoria.

 

(C) narra uma história pessoal, explicitando os conflitos vividos por quem escreve poesia.

 

(D) descreve sua infância, justificando o caráter ingênuo que marca a obra.

 

(E) critica a falta de erudição dos jovens da época, antecipando as dificuldades de leitura.

QUESTÃO 02

No prefácio, a cena enunciativa coloca o autor e o leitor em um mesmo tempo e espaço. Quais elementos linguísticos contribuem para esse efeito no diálogo?

(A) As vozes em terceira pessoa e a palavra "primavera".

 

(B) Os enunciados negativos e o termo "lira".

 

(C) As orações adversativas e o substantivo "poeta".

 

(D) Os argumentos explicativos e o adjetivo "pobre".

 

(E) As frases imperativas e o advérbio "agora".

QUESTÃO 03

Se ao invés de usar períodos compostos como em "É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.", o autor tivesse escolhido períodos simples: "É uma lira sem cordas. É uma primavera sem flores. É uma coroa de folhas sem viço.", a imagem construída a respeito de sua obra não seria a mesma, porque

 

(A) o pressuposto produzido pelo uso do termo sem indica a impossibilidade de os poemas retratarem a completude das coisas do mundo.

 

(B) a oposição entre os objetos naturais e os produzidos pelo homem autoriza a interpretação de que a natureza seja a musa inspiradora dos poemas.

 

(C) o subentendido produzido pelo uso do mas leva o leitor ao entendimento de que a obra é comparada a produções rudimentares.

 

(D) a contradição marcada pelo uso do mas permite a compreensão de que a essência das coisas se mantém mesmo quando lhes falta o atributo principal.

 

(E) a antítese instaurada na comparação entre realidade e ficção produz a ideia de que a poesia deva realçara aparência das coisas.

 

Leia o Texto 2 para responder às questões 04 e 05.

Texto 2

Alienação política de jovens é tendência mundial

Embora o número de eleitores aptos ao voto facultativo, com 16 e 17 anos de idade, tenha aumentado em relação à última eleição, em 2010, a percepção é que há um desinteresse dos jovens nessa faixa etária em relação à eleição deste ano.

 

A avaliação é do cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ele, essa percepção não é só restrita ao Brasil. ''A desmotivação é mundial'', disse. ''Parece que nós vivemos uma época em que os jovens encontram soluções que já estão dadas'', completou. Figueiredo acredita, no entanto, que principalmente agora, na Europa, haverá um recrudescimento da participação

juvenil na tentativa de encontrar soluções para os novos problemas colocados pela crise econômica. ''A tradição mostra que são os jovens que mais reagem a situações de crise, inclusive porque eles trazem dentro de si o futuro e reconhecem nas situações críticas do presente o que não deve ser feito e o que precisa ser mudado''. No caso do Brasil, analisou que a última participação forte da juventude na política ocorreu com a geração dos ''caras pintadas'', que foram às ruas pelo impeachment de Fernando Collor, da Presidência da República (1992). Por isso, reiterou que a desmotivação é uma tendência geral do mundo, que vive uma situação que, ''para o jovem, é relativamente confortável''. Segundo o professor de pós-graduação em ciência política da UFF, há uma ideologia espalhada no ar, que se denomina pós-modernismo, onde se cultiva muito o individualismo, em vez das preocupações coletivas e sociais. E isso tudo influencia o comportamento juvenil. ''Por isso, não é de se estranhar que haja essa desmotivação'', declarou. Vinicius de Sá Machado foge a essa regra. Morador de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o estudante de 17 anos lamentou ter perdido o prazo para tirar o título de eleitor para poder votar no próximo domingo (7). Ele se definiu motivado. ''Os candidatos todos despertam o interesse. Mas muitos prometem e não fazem nada'', disse à Agência Brasil. ''Eu queria votar para ajudar a minha cidade'', acrescentou. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, chamou a atenção para o fato de que, apesar de o número percentual de jovens entre 16 e 18 anos incompletos com inscrição eleitoral não ser tão expressivo, ''ano a ano, nas eleições, nunca tantos jovens estiveram aptos a votar''.

 

Por essa razão, definiu como relativo o dado que aponta uma desmotivação dos eleitores de 16 e 17 anos

para o pleito deste ano. Destacou que o voto para menores de 18 anos foi um direito conquistado na Constituição de 1988. ''É um direito caro para o país e uma forma importante de os jovens entrarem em contato com a cidadania e com seus deveres enquanto cidadãos para opinarem sobre a política

em seu país''.   GANDRA, A. Disponível em: <http://www.jb.com.br>

QUESTÃO 04

O artigo de opinião suscita o debate a respeito da alienação política dos jovens brasileiros na faixa etária entre 16 e 17 anos. Que trecho do texto traz o argumento que explica a percepção do desinteresse desses eleitores em relação à votação do dia 7 de outubro de 2012?

 

(A) "A tradição mostra que são os jovens que mais reagem a situações de crise".

 

(B) "eles trazem dentro de si o futuro e reconhecem nas situações críticas do presente o que não deve ser feito e o que precisa ser mudado".

 

(C) "há uma ideologia espalhada no ar, que se denomina pós-modernismo, onde se cultiva muito o individualismo".

 

(D) "Os candidatos todos despertam o interesse. Mas muitos prometem e não fazem nada".

 

(E) "É um direito caro para o país e uma forma importante de os jovens entrarem em contato com a cidadania e com seus deveres".

QUESTÃO 05

O texto traz a voz de um estudante que fugiria ao padrão de comportamento político do jovem atual. No entanto, o discurso desse estudante reafirma a tese do desinteresse dessa faixa etária pelas eleições, pois, apesar de

 

(A) dizer que gostaria de votar para ajudar sua cidade, deixou de observar o prazo de inscrição eleitoral.

 

(B) morar em São Gonçalo, desconsidera que suas ações políticas tenham consequências para o Rio de Janeiro.

 

(C) afirmar que as promessas dos políticos carecem de cumprimento, tem vontade de exercer o direito de voto.

 

(D) conhecer a realidade política brasileira, diz que os candidatos são interessantes.

 

(E) entender que o voto é uma imposição política, acredita que eleições sejam benéficas ao país.

QUESTÃO 06

Nos trechos "As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor" (Texto 1) e "Parece que nós vivemos uma época em que os jovens encontram soluções que já estão dadas" (Texto 2), a justificativa para a dificuldade do jovem em face de certas tarefas é diferente e está centrada, respectivamente,

 

(A) na valorização da aparência do jovem e na busca de compreensão de seus conhecimentos.

 

(B) no caráter emotivo do jovem e no seu estado de perplexidade diante das questões políticas.

 

(C) na base biológica do cérebro em processo de evolução e na herança genética.

 

(D) na capacidade de o jovem imitar a natureza e no pessimismo do jovem pós-moderno.

 

(E) na curta experiência do jovem e na desmotivação para refletir acerca dos problemas de sua época.

Leia o Texto 4 para responder às questões 09 e 10.

 

Texto 4

[…] No confuso rumor que se formava, destacavam- se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia. Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, eram um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

                                                                                                                                                          AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.

QUESTÃO 07

No trecho, as escolhas lexicais caracterizam as personagens como

(A) transgressoras, conforme relata o trecho "as crianças não se davam ao trabalho de ir lá, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos".

 

(B) seres inquietos, conforme indicam os sentidos produzidos pelos pares de valor semântico opositivo "abrir e fechar" e "entrar e sair".

 

(C) contempladoras da natureza, conforme sugere a menção às aves em "grasnar de marrecos" e "cantar de galos".

 

(D) animais, conforme demonstra a descrição das ações em "suspendendo o cabelo para o alto do casco" e "esfregam com força as ventas".

 

(E) indiferentes, conforme mostra a avaliação de seu comportamento em "uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água".

QUESTÃO 08

Considerados os papéis sociais das personagens do romance, a frase "era um zunzum crescente" resume um aspecto contextual relevante para a configuração da cena retratada, pois

(A) demonstra a plasticidade sonora de um ambiente em que vozes dispersas, sem ressonância, deixam de ser distintas e são condensadas em rumor.

 

(B) descreve uma cena típica de um grupo social que reconhece seu discurso como arma de resistência contra a elite dominante da época.

 

(C) envolve o leitor em uma atmosfera conflituosa, em que homens e mulheres representam opiniões divergentes diante da realidade imposta.

 

(D) convida o leitor para um passeio panorâmico a uma sociedade envolta em sons bucólicos, de referência árcade, que dão um tom singelo ao ambiente.

 

(E) revela traços fundamentais na caracterização de uma comunidade centrada em uma atmosfera que inspira suspense e fantasia.

1B, 2E, 3D 4C, 5A, 6E, 7D, 8A