sábado, 14 de maio de 2011

Resumo: teoria e prática
Resumo é uma condensação fiel das ideias ou fatos contidos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos:
a)      Cada uma das partes essenciais do texto;
b)      A progressão em que elas acontecem;
c)      A correlação que o texto estabelece  entre cada uma delas.
O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas idéias essenciais, na progressão e no encadeamento em que aparecem no texto. Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos essenciais do texto. Por isso não cabem,  num resumo, comentários ou julgamentos ao que está sendo condensado.

Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de "colagem". Essa colagem de fragmentos do texto original não é um resumo. Resumir é apresentar com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido.

Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do texto. Não é possível ir resumindo a medida que se vai fazendo a primeira leitura. É evidente que o grau de dificuldade para resumir um texto depende basicamente de dois fatores:
a) da complexidade do próprio texto (seu vocabulário, sua estruturação sintático-semântica, suas relações lógicas, o tipo de assunto tratado etc.);
b) da competência do leitor (seu grau de amadurecimento intelectual, o repertorio de informações que possui, a familiaridade com os temas explorados).

Dicas para se fazer um bom resumo:
  1. Ler uma vez o texto ininterruptamente, do começo ao fim. Essa primeira leitura deve ser repetida até o aluno ser capaz de responder à seguinte questão: do que trata o texto?
  2. Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com o lápis na mão, para compreender  melhor o significado de cada palavra ou expressão desconhecida ( se necessário recorra ao dicionário), deve-se prestar atenção nas palavras relacionais, isto é, aos elementos de coesão;
  3. Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade de significação. Ao se resumir um texto pequeno pode-se adotar como critério de segmentação a divisão em parágrafos, oposição entre personagens, oposição de espaço e tempo, capítulos, enfim cada texto apresenta indícios de qual melhor opção para segmentá-lo.
  4. Dar a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os segmentos, mas encandeá-los na progressão em que se sucedem no texto, estabelecendo as relações entre entres.

Nós, antropólogos sociais, que sistematicamente estudamos sociedades diferentes, fazemos isso quando viajamos. Em contato com sistemas sociais diferentes, tomamos consciência de modalidades de ordenação espacial diversas que surgem aos nossos sentidos de modo insólito, apresentando problemas sérios de orientação (...). E foi  curioso e intrigante descobrir em Tóquio que as casas têm um sistema de endereço personalizado e não impessoal como no nosso. Tudo muito parecido com as cidades brasileiras do interior onde, não obstante cada casa ter um número e cada rua um nome, as pessoas informam ao estrangeiro a posição das moradias de modo personalizado e até mesmo intimo: "A casa do Seu Chico fica ali em cima... do lado da mangueira... é uma casa com cadeiras de lona na varanda... tem janelas verdes e telhado  bem velho...fica logo depois do armazém do Seu Ribeiro..."Aqui, com vemos, espaço se confunde com a própria ordem social de modo que, sem entender a sociedade com suas redes de relações sociais e valores, não se pode interpretar como o espaço é concebido. Alias, nesses sistemas, pode-se dizer que o espaço não existe como uma dimensão social independente e individualizada, estando sempre misturado, interligado ou "embebido" – como diria Karl Polanyi – em outros valores que servem para orientação geral. No exemplo, sublinhei a expressão "em cima" para revelar precisamente esse aspecto, dado que a sinalização tão banalizada no universo social brasileiro do "encima" e do "em baixo" nada tem a ver com altitudes topograficamente assinaladas, mas exprimem regiões sociais convencionais e locais. Às vezes querem indicar antiguidades ( a parte mais velha da cidade fica mais "em cima") , noutros casos pretender sugerir segmentação social e econômica: quem mora ou trabalha "embaixo" é mais pobre e tem menos prestigio social e recursos econômicos. Tal era o caso da cidade de Salvador no período colonial, quando a chamada "cidade baixa", no dizer de um historiador do período "era dominada pelo comercio e não pela religião" (dominante, junto com os serviços públicos mais importantes, na "cidade alta"). "No cais – continua ele dando razão aos nossos argumentos – marinheiros, escravos e estivadores exerciam controle e a área  muito provavelmente fervilhava com a mesma bulha que lá se encontra hoje em dia" (Cf. Schwartz, 1979:85). Do mesmo modo e pela mesma sorte de lógica social, são muitas as cidades brasileiras que possuem sua "rua Direita" mas que jamais terão, penso eu, uma "rua Esquerda"! Foi assim no caso do Rio de Janeiro, que além de  ter a sua certíssima rua Direita, realmente localizada à direita do largo do Paço, possuía também  as suas ruas dos Pescadores, Alfândega, Quitanda (onde havia comercio de fazenda), Ourives – dominada por joalheiros e artífices de metais raros – e  muitas outras, que denunciavam com seus nomes as atividades que nelas de desenrolavam. Daniel P. Kidder, missionário norte-americano que aqui residiu entre 1837 e 1840, escreveu uma viva e sensível descrição das ruas do Rio de Janeiro e do seu "movimento", não deixando de ressaltar no seu relato alguma surpresa pelos seus estranhos nomes e sua notável, diria eu, metonímia ou unidade de continente e conteúdo.

Ora tudo isso contrasta claramente com modo de assinalar posições nas cidades norte-americanas, onde as coordenadas de indicação são positivamente geométricas, decididamente topográficas e, por causa disso mesmo, pretendem-se estar classificadas por um código muito mais universal e racional. Assim, as cidades dos Estados Unidos se orientam muito mais em termos de pontos cardeais – Norte/Sul, Leste/Oeste – e de um sistema numeral para ruas e avenidas, do que por qualquer acidente geográfico, ou qualquer episodio histórico, ou – ainda -  alguma característica social e/ou política. Nova  Yorque, conforme todos sabemos, é o exemplo mais bem-acabado disso que é, porém, comum a todos os Estados Unidos. Se lá então é mais fácil para um brasileiro  navegar socialmente nas cidades e estradas, é simplesmente porque ele ( ou ela) não está habituado a uma forma de denotar o espaço onde a forma de notação surge de modo mais individualizado, quantificado e impessoalizado. (659 palavras)
DA MATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1985. p. 25-7



Depois de ler o texto do começo ao fim, veremos que ele  trata do modo distinto como cada sistema social organiza o espaço.

Depois percebemos o movimento do texto: afirmação de que existem diferentes maneiras de ordenação espacial e, em seguida, ilustração dessa idéia, comparando a maneira de ordenar e denominar o espaço nas cidades brasileiras e a de fazer a mesma operação  nas cidades norte-americanas

O texto divide-se em duas grandes partes: a proposição e ilustração. A segunda parte divide-se segundo o critério de oposição espacial: Brasil X Estados Unidos (Tóquio não é levada em conta, porque a observação a respeito dos endereços no Japão serve apenas para introduzir o problema da indicação dos endereços no Brasil). Para facilitar, podemos segmentar o texto em três partes:

1º "Nós, antropólogos sociais" até "problemas sérios de orientação";

2º "E foi curioso e intrigante" até "unidade de continente e conteúdo";

3º "Ora, tudo isso contrasta" até o fim.

As partes se resumem da seguinte maneira:

1º existência de uma ordenação espacial peculiar a cada sistema social;
2º Brasil – ordenação e denominação do espaço a partir de critérios pessoais, sociais;
3º Estados Unidos – ordenação e denominação do espaço a partir de critérios impessoais.

            Cada sistema social concebe a ordenação do espaço de uma maneira típica. No
Brasil, o espaço não é concebido como um elemento independente dos valores sociais, mas está embebido neles. Expressões como "em cima" e "em baixo", por exemplo, não exprimem  propriamente a noção de altitudes mas indicam regiões sociais. As avenidas e ruas recebem  nomes indicativos de episódios históricos , de acidentes geográficos ou de alguma característica social ou política. Nas cidades norte-americanas, a orientação espacial é feita pelos pontos cardeais e as ruas e avenidas recebem um número e não um nome. Concebe-se, então,  o espaço como um elemento dotado de impessoalidade, sem qualquer relação com os valores sociais. (111 palavras)


Exercícios:

A - Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por trezentas e oitenta e nove palavras, num texto de cento e quinze.
Antes de iniciar o teu resumo, lê  atentamente as observações apresentadas em final de página.

Muito em síntese, pode ver-se a poesia portuguesa dos últimos cento e cinquenta anos dividida em três largos períodos, cada um deles inaugurado por um movimento de vanguarda e constituído, depois, por fases semelhantes - paralelas ou sucessivas - de afirmação, correcção e dissolução do próprio movimento inicial. As datas inaugurais seriam precisamente 1825 - o ano da publicação do poema Camões, de Garrett -, 1865 - o ano da publicação das Odes Modernas, de Antero - e 1915 - o ano do aparecimento do Orpheu, com Fernando Pessoa à testa do movimento modernista. Tal como Garrett fora a figura central do vanguardismo romântico de 1825 e Antero o vulto polarizador do vanguardismo realista da geração de 70, Fernando Pessoa é o corifeu(1) do vanguardismo de 1915. Entre as personalidades e os destinos destes três poetas - que não foram apenas poetas, mas também espíritos muito lúcidos e profundamente interessados pelos problemas da Cultura -, e a despeito das inegáveis diferenças que os separam, muitos são, todavia, os pontos de contacto que ante a nossa atenção ganham relevo: Garrett tinha 26 anos ao publicar o poema Camões; Antero, 23, ao editar as Odes Modernas; e Pessoa, 26, ao lançar-se na aventura do Orpheu. Dir-se-ia, desde já, que há uma idade sobremodo propícia - ao redor dos 25 anos, no limiar, portanto, da maturidade - para se desempenhar, voluntariamente ou não, o papel de condottiere(2) literário. Por outro lado, morrem os três à volta dos 50 anos - Garrett com 55, Antero com 49, Pessoa com 47-, sem assistir nenhum deles à completa dissolução dos vanguardismos que tinham iniciado. Dir-se-ia, agora, que o Destino desejou poupá-los a semelhante espectáculo, ou impedir que eles próprios nele participassem. Muito mais importantes, porém, do que estes dados cronológicos são determinados aspectos íntimos, que por igual os caracterizam.
          Trata-se, com efeito, de três personalidades contraditórias, em cujo foro interior se debatiam antagónicas forças - as quais, por seu turno, dramaticamente se exprimiram nas obras respectivas e nas respectivas actividades. E - curiosa coincidência - acerca de todos eles se tem equacionado o problema da sinceridade, e mesmo, por abusiva confusão, o problema da coerência política. Se, como pretendia Paul Valéry(3), «grande homem é aquele que deixa, após si, os outros no embaraço», não há dúvida que Pessoa, Antero e Garrett foram igualmente, nesta perspectiva, «grandes homens». Nenhum deles trazia, na bandeja, e pronta a ser servida, uma verdade irrefutável.
David Mourão-Ferreira, «Pessoa antes de Orpheu e em Orpheu 1 », Nos Passos de Pessoa, 1.ª ed., Lisboa, Presença, 1988


Observações:
(1)            corifeu: mentor; guia,
(2)            Condottiere(italiano): chefe, guia;
(3)Paul Valéry: escritor francês(1871-1945)


B.  Resumo:
Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por cento e noventa e duas  palavras, num texto de sessenta e cinco.

Um indivíduo só é livre se pode desenvolver as próprias potencialidades no seio da sociedade. Ser livre não significa apenas não ter medo, poder expressar a própria opi­nião sem temer represálias. Também significa conseguir que a sua opinião pese realmente nos assuntos de interesse comum e seja requerida pela socie­dade como contribuição necessária. Liberdade é plenitude de vida. Não sou livre se, dispondo de uma capaci­dade intelectual que pode produzir cem, vegeto numa ocupação onde rendo somente dez. No mundo actual é mais livre o profissional que trabalha de manhã à noite, dando-se totalmente aos seus doentes, aos seus alunos, aos seus clientes, que o solicitam confiando no seu juízo e na sua ciência. É mais livre o político, o sindicalista, o escritor que se enrola numa causa que transcende a sua própria pessoa.

O maior risco que corre hoje a liberdade é que a maioria dos homens é induzida a identificá-la com um estado de subordinação, de tranquila sujeição, de evasões periódicas controladas, a que a sua vida parece reduzir-se inexoravelmente. Só dando significado à vida de todos numa sociedade plural defenderemos de modo não ilusório a liberdade de cada um.
Michele Abbate, Liberdade e Sociedade de Massas (adaptado)

C -  Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por duzentas e seis palavras, num texto de setenta.
   
 A camada de ozônio que envolve o nosso planeta é como um manto que protege os seres vivos dos raios ultravioletas. Pois bem, em 1982, os cientistas descobriram um buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. E este buraco vem aumentando de forma alarmante durante os últimos anos.

Comprovou-se que a destruição da camada de ozônio se produz pela libertação de alguns gases, como o monóxido de carbono, o dióxido de carbono e os gases clorofluorcarbonatos utilizados em aerossóis e circuitos de refrigeração dos frigoríficos.

Se o processo de destruição da camada de ozônio continuasse, desencadear-se-ia um conjunto de fenômenos de consequências catastróficas para a Humanidade, sendo os principais os seguintes:
1. A temperatura da Terra aumentaria vários graus, de modo que o gelo das calotas polares fundir-se-ia e aumentaria o nível dos mares. Em conseqüência, as povoações costeiras ficariam submersas.
  2. As radiações ultravioletas chegariam à superfície terrestre com maior intensidade e, em consequência, aumentariam espetacularmente os casos de cegueira e de cancro da pele. Por tudo isto, urge limitar o fabrico e o uso industrial ou doméstico dos gases causadores da degradação da camada de ozônio. De outro modo, a Humanidade ver-se-á sujeita a um desastre ecológico só comparável a uma guerra nuclear.


D -  Texto com  164 palavras, faça o resumo com 45 palavras.
O advogado brasileiro Rodrigo Moreto Cubek foi preso na tarde de ontem na principal mesquita do Paquistão, a Faisal, por perturbar as tradicionais orações que aconteciam naquele dia. Ele deve ficar detido até segunda-feira.
Cubek, de cerca de 30 anos, estava com o visto vencido e disse ter visitado as cidades de Quetta (Baluquistão) e Peshawar ("capital" das áreas tribais do país). Como são cidades cheias de extremistas islâmicos, isso levantou a suspeita da polícia, que afirmou que está investigando seu itinerário.
O paranaense de Curitiba tentou entrar na área reservada a muçulmanos na mesquita. Gritou palavras sobre a Virgem Maria --na sexta foi comemorado o dia de Nossa Senhora de Fátima. A funcionários da Embaixada do Brasil, disse que "queria ter uma discussão religiosa".
Isso é ofensa gravíssima neste país, em que há leis severas para o que é considerado blasfêmia. Mas após conversa com o embaixador brasileiro no Paquistão, Alfredo Leoni, a polícia concordou em não enquadrá-lo inicialmente sob essa acusação.
Folha.com. 14/05/2011


E - Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por trezentas e trinta e sete palavras, num texto de cento e duas.

As duas primeiras décadas do século XX registram, na Europa, a crise do capitalismo e o nascimento da democracia de massas. A burguesia tem consciência do perigo que representa, para ela, a revolução socialista.

Por outro lado, uma inédita revolução científica, que rompeu barreiras de tempo e espaço, pro­duz um grande e geral estado de euforia e crença no progresso. Surgem, no início do século, os seguintes eventos: o telégrafo, o automóvel, a lâmpada elétrica, o telefone, o cinema, o avião.
A máquina se faz presente em todos os momentos da vida. Viver confortavelmente e aproveitar o presente são preocupações fundamentais da época. A esse início do século XX, dá-se o nome de belle époque.

Em 1914, tem início a Primeira Guerra Mundial, que terminaria em 1918. O conflito, que envolveu praticamente o mundo inteiro, gerou enorme descontentamento e a descrença em relação aos siste­mas políticos, sociais e filosóficos até então vigentes. O homem que viveu a guerra questiona os valores do seu tempo. O período de segurança, confiança no futuro e euforia tinha terminado.

Onze anos depois, o mundo vai enfrentar a tremenda crise econômica de 1929, da qual resul­tará a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse ligeiro período de entre guerras, assiste-se aos "anos loucos", fase marcada principalmente pela ânsia de "viver freneticamente". Aproveitar o "hoje e o agora " tornaram-se necessidade. A guerra tinha lançado no espírito humano a incerteza sobre a permanência e a duração da paz.

Essa busca de novidades, no entanto, não se restringe tão-só à área da produção de manufaturados. Também nas artes se verifica uma busca desenfreada do novo, um desejo de ruptura com o passado e um sonho com um futuro maravilhoso, rico em promessas. Essas tendências vão receber o nome genérico de vanguarda. Assim, pode-se dar o nome de vanguarda a qual­quer movimento, dentro do século XX, que se caracterize pela rebeldia e pela rejeição sistemática do passado. Entre os movimentos de vanguarda do século XX, destacam-se o Futurismo, o Dadaísmo, o Cubismo, o Surrealismo e o Expressionismo.

Fabiane in http:Ilwww.geocities.com/ParislMetro/771 9/vanguarda. Html


F. Texto com aproximadamente 455 palavras, resuma-o para 100.
Esta sexta-feira 13 não teve nada de assustador para uma turma de estudantes brasileiros viajando por Los Angeles. Exceto o terror da ansiedade, a premiação da maior feira de ciências do mundo foi generosa aos alunos, que faturaram quase 20 prêmios --desde US$ 500 até US$ 60 mil em bolsas.
A delegação brasileira, formada por 18 projetos, foi escolhida para participar desse evento, o de maior prestígio do mundo na área, durante duas feiras de ciência nacionais, a Mostratec (em Novo Hamburgo, RS) e a Febrace (em São Paulo). Talvez você se lembre das visitas que o Folhateen fez a esses encontros científicos, nos últimos anos.
A Isef, feira internacional de Ciências e Engenharia organizada pela Intel, reúne anualmente cerca de 1.500 estudantes de mais de 60 países. Boa parte dos alunos vem dos EUA, como era de se esperar, mas há estudantes de cantos distintos como China, Costa Rica e as divertidíssimas garotas da Arábia Saudita (sim, elas comemoravam fazendo aquele som curioso com a garganta, tipo "ululululululai!").
Os projetos também prezavam a variedade de tema, além da geográfica. Havia, é claro, pesquisas específicas envolvendo cálculos complexos e gráficos ininteligíveis ao público leigo. Em alguns casos, o esforço dos bem-intencionados alunos de explicar teorias ao repórter falharam.
Mas parte dos trabalhos levados a Isef eram de áreas nem sempre englobadas quando se fala de "ciência". Eram os projetos nas ciências humanas, como psicologia. O Brasil estava bem representado nessas áreas com pesquisas em hábitos alimentares e em deficit de atenção, para citar dois dos premiados.
Além dos estudos --que exigiram disposição dos estudantes para explicar os projetos às vezes para mais de dez jurados durante um dia todo, de pé--, os rapazes aproveitaram a viagem para o descanso merecido após meses de pesquisa. O cronograma oficial do evento incluía uma visita noturna a um parque de diversão fechado exclusivamente para as delegações.
Entre os visitantes, que conferiram os projetos durante horários específicos nesta semana, o comentário padrão era de que "Nossa, como eles sabem de tanta coisa? Eu, com a idade deles, só pensava em ir ao cinema". Mas os professores e cientistas presentes no evento explicaram: "Alunos de ensino médio são capazes de pesquisar como gente grande".
Os garotos brasileiros, e também o restante dos participantes, embasam essa visão. Voltam para casa não só com milhares de dólares, mas com pesquisas que ainda querem aprofundar e, por que não, patentear. Isso em termos de "achievements", como tanto se diz por aqui, nos EUA. Mas a bagagem desses rapazes vem mais pesada do que isso --traz amigos, a primeira viagem internacional de muitos deles, a satisfação pessoal e uma carreira que já começa com o brilho de quem vai longe.


G.   O texto abaixo possui aproximadamente, 897 palavras, resuma-o em  180.

Genebra - O governo brasileiro destina uma das menores proporções de seu orçamento à saúde no mundo, inferior à média africana, e o setor no País ainda é pago em grande parte pelo cidadão. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) que nesta sexta-feira, 13, apresentou um raio-x completo do financiamento da saúde e escancarou uma realidade: o custo médio da saúde ao bolso de um brasileiro é superior à média mundial. Segundo os dados, famílias brasileiras ainda destinam mais recursos para a saúde que o próprio governo. Em termos absolutos, o governo brasileiro destina à saúde de um cidadão um décimo do que europeus destinam aos seus.
O raio-x é apresentado às vésperas da abertura da Assembléia Mundial da Saúde, em Genebra, e que terá a presença de ministros de todas as regiões para debater, entre outras coisas, o futuro do financiamento ao setor.
Dados da OMS apontam que 56% dos gastos com a saúde no Brasil vem de poupanças e das rendas de pessoas. O número representa uma queda em relação a 2000. Naquele ano, 59% de tudo que se gastava com saúde no Brasil vinha do bolso de famílias de pacientes e de planos pagos por indivíduos.
Mesmo assim, a taxa é considerada como uma das mais altas do mundo. Dos 192 países avaliados pela OMS, apenas 41 tem um índice mais preocupante que o do Brasil. A proporção de gastos privados no Brasil com a saúde é, em média, superior ao que africanos, asiáticos e latino-americanos gastam em média.
Para fazer a comparação, a OMS utiliza dados de 2008, considerados como os últimos disponíveis em todos os países para permitir a avaliação completa.
Um dos fenômenos notados pela OMS no País foi a explosão de planos de saúde. Há dez anos, 34% do dinheiro na saúde no Brasil vinha de planos. Em 2008, a taxa subiu para 41%. Um brasileiro gasta ainda quase duas vezes o que um europeu usa de seu próprio salário para saúde. Em média, apenas 23% dos gastos com a saúde na Europa vem dos bolsos dos cidadãos. O resto é coberto pelo estado.
A taxa de dinheiro privado na saúde no Brasil também é muito superior à media mundial, de 38%. No Japão, 82% de todos os gastos são cobertos pelo governo. Na Dinamarca, essa taxa sobe para 85%. Em Cuba, os gastos privados de cidadãos com a saúde representam apenas 6% do que o país gasta no setor.
Já países onde o sistema de saúde é praticamente inexistente, o cenário é bem diferente. No Afeganistão, 78% dos gastos com a saúde depende dos cidadãos. No Laos, a taxa chega a 82%, contra 93% em Serra Leoa.
Orçamento - Outro dado revelador para a OMS é a quantidade de recursos num orçamento nacional que é destinado à saúde, o que mostraria a prioridade política do governo em relação ao tema. A entidade alerta que é esse dado que revela quanto de fato um governo está preocupado com a saúde de sua população, e não os discursos políticos ou anúncios de novos programas. Nesse ponto, o Brasil está entre os 24 países que menos destinam recursos de seu orçamento para a saúde. Em 2008, 6% do orçamento nacional ia para a saúde. A taxa representou um salto real dos 4,1% em 2000.
Mas é menos da metade da média mundial. Em geral, a OMS descobriu que 13,9% dos orçamentos nacionais vão para a saúde. Nos países ricos, a taxa chega a 16,7%. No Canadá, ela é de 17%.
A proporção do orçamento nacional que vai para a saúde é ainda inferior à média africana, de 9,6%. Segundo a OMS, o governo brasileiro destina à saúde menos que o grupo de países mais pobres do mundo.
Em valores absolutos, o levantamento da entidade constata que os recursos para a saúde dobraram em dez anos no Brasil, somando gastos governamentais e privados. Por pessoa, a saúde no País consome o equivalente a US$ 875,00. Há uma década, esse valor era de apenas US$ 494,00.
Desse total, US$ 385 são arcados pelo governo, um valor dez vezes menor que o que gastam os governos da Dinamarca e Holanda com a saúde de cada um de seus habitantes.
Em Luxemburgo, o governo gasta 13 vezes mais que o brasileiro para cada um de seus habitantes. Quem mais destina recursos de seu orçamento à saúde é o principado de Mônaco, 17 vezes mais que o Brasil, cerca de US$ 5 mil.No outro extremo, o governo de Serra Leoa gasta US$ 7 por ano por pessoa. Em Mianmar, cada habitante recebe o equivalente a US$ 2.
Avanços - Apesar das constatações preocupantes em relação ao Brasil, os dados da OMS apresentam alguns avanços no País. O primeiro deles é de que o total gasto por privados e governos com a saúde aumentou de 7,2% do PIB em 2000 para 8,4% em 2008. A taxa ainda é inferior aos 11% em média destinado á saúde nos países ricos. Mas próximo da média mundial de 8,5%.
Outros avanços também são registrados. A expectativa de vida passou de 67 anos em 1990 para 73 anos, em 2009. Em geral, o brasileiro viva mais que a média mundial.
A morte de crianças com menos de um ano também desabou no País. Em 1990, eram 46 por cada mil crianças. Vinte anos depois, essa taxa caiu para 17. (Jamil Chade).